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Álcool e coração: aliados ou inimigos?

Dr. José Henrique Vila, Assessor de Qualidade Profissional.

O alcoolismo revela-se, cada vez mais, como um dos grandes vilões da saúde e, infelizmente, seu índice de mortalidade tem crescido entre os jovens. Segundo o Dr. José Henrique Andrade Vila, assessor de Qualidade Profissional da SOCESP, a moçada até sabe dos riscos provocados pelo excesso de consumo, como aumento do risco de acidentes, violência, vários tipos de câncer, hipertensão arterial e doenças do músculo cardíaco. Mas a desculpa para as extravagâncias alcoólicas está sempre na ponta da língua: “meu consumo é social”, ou “é só um golinho”. Pior ainda, o consumo de álcool tem crescido entre as jovens, o que tem risco potencial maior quando em presença de gravidez, podendo determinar graves alterações no futuro bebê.

Além da recorrência de alcoolismo entre jovens e suas conseqüências, outro dado que o Dr. Vila considera merecedor de atenção é a divulgação de uma relação positiva entre álcool e coração. A afirmação não chega a ser um boato sem fundamento. Há evidências de que o consumo leve ou moderado de álcool protege as artérias do coração, diminuindo em 30% a 50% a incidência de obstruções coronarianas, entre adultos de meia idade e do sexo masculino, principalmente. Isso parece acontecer devido ao aumento do bom colesterol, promovido pela bebida, e também por causa dos efeitos antioxidante e antiinflamatório, em particular do vinho tinto.

É essa tese, aliás, que explica um famoso paradoxo observado na França, país de elevado consumo de gordura, mas de baixo índice de doenças das artérias coronárias, exatamente por causa do efeito protetor do vinho tinto, muito consumido pelos franceses. “Mas daí a achar que a bebida é a melhor arma contra as doenças do coração é, no mínimo, uma irresponsabilidade”, alerta o Dr. Vila.

“São evidências relevantes as que temos, mas baseadas em dados fornecidos pelo paciente apenas. Outros estudos não foram capazes de evidenciar esse provável benefício”, pondera o Dr. Vila, com mais uma ressalva: “Quem bebe acima de 60 gramas de etanol ao dia joga por terra o suposto efeito protetor”. A explicação está no aumento da mortalidade cardiovascular que cresce com o aumento do consumo alcoólico, devido aos efeitos tóxicos do mesmo sobre o músculo cardíaco.

A possibilidade de dependência põe mais lenha na fogueira. “O vício causado pelo álcool tem um indiscutível componente genético, que vem sendo largamente estudado”, afirma o médico. Quando o consumo de bebida é estimulado, o mesmo acontece com o vício, que pode se tornar incontrolável. Sem falar no aspecto arrasador das conseqüências pessoais e familiares que o alcoolismo causa. “Além de debilitar a saúde física do alcoólatra, o vício impacta sua saúde emocional e de sua família. É comum notar quadros depressivos entre todos os envolvidos”, completa o cardiologista.

Não é preciso encarar o álcool como a encarnação do mal. Mas é prudente evitar os excessos. “Para as pessoas com doenças do coração, o melhor mesmo é adotar atividades físicas, abolir o fumo e reduzir o peso”, recomendo o Dr. Vila. Tais práticas, além de não serem um bicho de sete cabeças, trazem um resultado compensador não só para o coração, mas para o corpo inteiro.


Fonte: Jornal Futuro, informativo da Fundação Sen. José Ermírio de Moraes (FUNSEJEM), ano 5, número 27.


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