Área Científica


I Consenso Sobre Manuseio Terapêutico da Insuficiência Cardíaca - SOCERJ

6. Diuréticos

I – Mecanismo de Ação:


Quando o coração entra em Insuficiência Cardíaca o débito cardíaco assim como o fluxo renal e uma série de respostas hemodinâmicas, hormonais e ligadas ao sistema nervoso autônomo ocorrem levando a um aumento da retenção de sal e água com expansão do volume extracelular. Com isto o coração mantém o débito cardíaco e a perfusão tissular; porém, o aumento da pressão final do ventrículo esquerdo da tesão de sua parede e o aumento das dimensões das cavidades esquerdas acabam por impedir a manutenção do débito cardíaco levando à congestão pulmonar e edema periférico.

Assim, o mecanismo básico dos diuréticos é aumentar a eliminação renal de sal e água, reduzindo o volume de fluido intravascular intersticial e a pressão de enchimento ventricular (pré-carga), diminuindo, em conseqüência, a retenção de fluido e eliminando a congestão pulmonar e os edemas periféricos.¹

II – Principais Diuréticos empregados na Insuficiência Cardíaca:

1) Diuréticos de Alça

2) Diuréticos Tiazídicos

3) Diuréticos Poupadores de Potássio

1) Diuréticos de Alça:

São os mais potentes e utilizados. Atuam inibindo o ion transportador NaK2Cl encontrado na membrana apical de células epiteliais renais no ramo ascendente da alça de HENLE.2

A inibição do NaK2Cl resulta em aumento acentuado da excreção de Sódio e Cloro, indiretamente de Ca e Mg e com a queda de concentração de solutos no interstício medular diminui a reabsorção de água no túbulo coletor, aumentando a sua eliminação. A eliminação de sódio e água aumenta a eliminação de K+ e H+, processo acelerado pela aldosterona.

Os principais diuréticos de alça são a Furosemida e a Bumetanida.

2) Diuréticos Tiazídicos:

Seu mecanismo de ação é inibir a ação do ion transportador Na+CL- no túbulo distal com aumento de eliminação de Na+, Cl-, K+ e água.4

Dos tiazídicos, os mais empregados são a Hidroclorotiazida e a Clortalidona.

3) Diuréticos Poupadores de Potássio:

São diuréticos que eliminam sal e água porém poupam o potássio. Agem inibindo os canais condutores de sódio no túbulo coletor, como a amilorida e triantereno ou bloqueando a aldosterona, como a espironolactona. 4

III – Posologia

1) Diuréticos de Alça:

Furosemida – 40 a 120 mg/dia via oral.
Bumetanida – 1 a 3 mg/dia

2) Diuréticos Tiazídicos:

Hidroclorotiazida – 12,5 a 50 mg/dia
Clortalidona – 25 a 100mg/dia

3) Diuréticos Poupadores de Potássio:

Espironolactona – 25 a 100 mg/dia
Triantereno – 100 a 300 mg/dia

IV – Modo de Emprego

O manuseio dos diuréticos depende do tipo de insufuciência cardíaca e classe funcional do paciente.

Indicações aceitas:

1)Insuficiência Cardíaca Sistólica Crônica

a) Classe funcional I
Nestes pacientes não se usa diuréticos, apenas restrição salina e outras medidas higieno-dietéticas, junto aos inibidores de enzima conversora e digital.

b) Classe funcional II
O diurético de escolha é o tiazídico, naqueles pacientes com sinais de retenção hídrica, junto aos inibidores de enzima conversora e digitálicos.

c) Classe fuincional III e IV
É imperioso o uso de diuréticos de alça, em dose que varia no caso da Furosemida de 40 a 120mg/dia, junto aos IECAS e digitálicos. Avaliar a necessidade de ajuntar tiazídicos no caso de suspeita de resistencia ao uso de diurético. O uso endovenoso das primeiras doses de diurético de alça devem ser aplicado.

O uso de espirolactona,associada a digital,IECA e furosemida, nos pacientes com grave disfunção ventricular,com disfunção do ventriculo direito,ou com Hipertensão Arterial Pulmonar.

2) Insuficiência Cardíaca Sistólica Aguda

É imperioso o uso de diuréticos de alça injetável, em dose mais abrangente que na fase crônica, de 2 a 5 ampolas, em dose única, via venosa.

3) Insuficiência Cardíaca Diastólica Crônica

Em princípio não há indicação para os diuréticos, visto que as medidas e fármacos devem ser dirigidos a facilitar o enchimento diastólico. Se houver necessidade de diminuir a pré-carga podem ser usados.5

4) Insuficiência Diastólica Aguda

Devem ser usados para diminuir a pré-carga, como furosemida via venosa, 1 a 5 ampolas, além das medidas dirigidas a melhorar o enchimento ventricular.

V – Complicações e Contra-indicações:

A rigor não existe contra-indicação aos diuréticos na Insuficiência Cardíaca.

Complicações:

O uso de diuréticos na Insuficiência Cardíaca pode levar a alguns efeitos indesejáveis, a saber:

- Hipovolemia – por mobilização excessivamente rápida do edema, podem surgir sinais e sintomas conseqüentes ‘a hipovolemia.

- Hiponatremia Crônica – pode tornar-se problemática quando é dilucional, com edema persistente e sódio baixo. É devida ‘a incapacidade do paciente de excretar urina adequadamente diluída.

- Alcalose e Hipopotassemia – ocorrem pelo uso prolongado de diurético, principalmente de alça, que eliminam K+ e H+, sem que haja reposição adequada.

Na fase aguda, as doses podem ser até superiores ‘as rotineiramente usadas, variando de 80 a 200mg, monitorando-se, no entanto, adequadamente, a eliminação de sódio e água.

Já na Insuficiência Cardíaca Crônica, as doses devem ser menores que as usualmente usadas, utilizando-se diuréticos de alça nas classes funcionais III e IV.

REFERÊNCIAS:

  1. BRATER, D.C.. Pharmacokineties of loops diuretics in congestive heart failure. Br. Heart Journal. 72:S40, 1994.

  2. BRAUNWALD, E. Heart Disease – A Textbook of Cardiovascular Disease. 5th Edition. Philadelphia.: Saunders, 1997.

  3. HURST, W. The Heart. 9th Edition. New York: McGraw Hill, 1998.

  4. MASSERLI, F.H. Cardiovascular Drug Therapy. 2th Edition. Philadelphia: Saunders, 1996.

  5. SMITH, T.H. Cardiovascular Therapeutics. 1st Edition. Philadelphia: Saunders, 1996.

  6. ACC/AHA TASK FORCE REPORT. Guidelines for the Evaluation and Management of Heart Failure. JACC, Vol.26, nº5, 1376-1398, 1995.






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