Resumo das indicações de exames e procedimentos em lesões orovalvares
mitrais e aórticas publicados pela American Heart Associarion e American
College of Cardiology no Circulation
Insuficiência Mitral Aguda
Quase sempre os pacientes são sintomáticos.
A ecocardiografia transtorácica pode subestimar o jato regurgitante e o ETE
deve ser realizado caso a gravidade da lesão ainda esteja em questionamento
após o transtorácico. O ecocardiograma transesofágico também permite avaliar
melhor a anatomia da valva e as causas da regurgitação. Na ausencia de
suspeitas de doença dispensa-se cateterismo preoperatório.
O tratamento é sempre cirúrgico. Antes da cirurgia pode-se tentar melhorar a
hemodinâmica do paciente com nitroprussiato, associado ou não a aminas na
dependência de haver ou não hipotensão associada. O balão intra-aórtico
também está indicado para diminuir o volume regurgitante, as pressões de
enchimento e aumentar o débito cardíaco.
Insuficiência Mitral Crônica
Na fase compensada o paciente pode ser totalmente assintomático mesmo após
exercício físico vigoroso, já que o aumento do VE e AE acomodam o volume
regurgitante e diminuem as pressões de enchimento. A duração desta fase é
variável mas pode ser de muitos anos. Uma prolongada sobrecarga de volume
pode resultar em disfunção de VE mesmo com FE no limite inferior da
normalidade (50 a 60 %) de já existir significativa disfunção miocárdica. É
preciso proceder à correção da IM antes desta fase.
Exames seriados:
Pacientes assintomáticos com IM leve e sem aumento de VE ou evidências de
hipertensão pulmonar podem ser acompanhados anualmente devendo ser
instruídos para procurar o médico caso surjam sintomas; o ecocardiograma
anual não é necessário exceto frent a evidências de piora da IM.
Pacientes com IM moderada devem ser reavaliados clinicamente e com exame
ecocardiográfico anual.
Pacientes com IM grave e assintomáticos devem ser reavaliados a cada 6 a 12
meses para avaliar sintomas e a transição para disfunção de VE assintomática.
A maioria dos pacientes desenvolve sintomas antes da disfunção de VE. Pode-se
avaliar a tolerância aos exercícios com teste ergométrico principalmente se
a capacidade de tolerância ao exercício não puder ser obtida pela história.
A FE em pacientes com função de VE normal geralmente é maior que 60%.
Estudos demonstram uma redução na sobrevida de pacientes com FE < 60% no
pós-operatório em comparação a pacientes com FE maiores.
A dimensão sistólica final (ou o volume) deve ser < 45 mm antes da cirurgia
para obter uma melhor função de VE no pós - operatório.
Caso o paciente se torne sintomático, deve-se indicar cirurgia, independente
do estado funcional do VE.
Recomendações para a ecocardiografia transtorácica
na insuficiência mitral:
Indicação |
Classe |
1. Como avaliação inicial para quantificar a gravidade da IM e
a função de VE em qualquer paciente com suspeita de IM. |
I |
2. Para definir os mecanismos de IM |
I |
3. Para avaliação anual ou semestral da função de VE.
(estimadas pela FE e dimensão sistólica final do VE) em IM grave e
assintomática. |
I |
4. Para avaliar pacientes com modificações de seus sintomas. |
I |
5. Avaliação após a cirurgia para troca ou plastia mitral para
estabelecer o padrão basal. |
I |
6. Avaliação rotineira de IM leve com função de VE normal. |
III |
Recomendações para a ecocardiografia
transesofágica na insuficiência mitral
Indicações |
Classe |
1. Durante a cirurgia para estabelecer a base
anatômica da insuficiência mitral e guiar o reparo. |
I |
2. Para avaliação de pacientes com insuficiência
mitral nos quais a ecocardiografia transtorácica nao é capaz de
fornecer imagens diagnósticas sobre gravidade e/ou mecanismo da
insuficiência mitral ou sobre a função de VE. |
II |
3. Uso rotineiro para avaliação de pacientes com
IM de valva nativa. |
III |
Tratamento clínico:
Para pacientes assintomáticos com IM crônica, não há terapia clínica
comprovadamente indicada por estudos clínicos. Não há ainda grandes estudos
que indiquem benefício no uso de vasodilatadores para este grupo de
pacientes. Assim, na ausência de hipertensão arterial sistêmica, não há
indicação conhecida para o uso de terapia vasodilatadora em pacientes
assintomáticos com função de VE preservada.
Em pacientes sintomáticos que desenvolvem sintomas mas com função de VE
preservada, a cirurgia é a terapia mais apropriada.
Se surgir fibrilação atrial, deve-se baixar a FC com digital, b -bloqueadores,
bloqueadores de canais de cálcio ou raramente amiodarona. Apesar do menor
risco de embolia com a combinação de FA e IM do que a combinação de EM e FA,
o INR deve ser mantido entre 2 e 3 nos pacientes com IM que desenvolvem FA.
Recomendações para angiografia coronária na IM
Indicações |
Classe |
1. Quando a cirurgia de valva mitral é contemplada em pacientes
com angina ou IAM prévio. |
I |
2. Quando a cirurgia de valva mitral é contemplada em pacientes
com > de 1 fator de risco para DAC. |
I |
3. Quando suspeita-se de isquemia como possível fator etiológico
na IM. |
I |
4. Para confirmar testes não invasivos em pacientes sem suspeita
de ter DAC. |
II b |
5. Quando a cirurgia de valva mitral é contemplada em pacientes
com idade < 35 anos e não há suspeita clínica de DAC. |
III |
Recomendações para a ventriculografia esquerda e
avaliação hemodinâmica na IM
Indicações |
Classe |
1. Frente a exames não invasivos inconclusivos em relação a
gravidade da IM, função de VE ou necessidade de cirurgia. |
I |
2. Em caso de discrepância entre os achados clínicos e não
invasivos em relação a gravidade da IM. |
I |
3. Em pacientes nos quais a cirurgia valvar não é contemplada. |
III |
Indicações para cirurgia:
Há 3 modalidades possíveis de cirurgia para correção da IM: Reparo da valva
mitral, troca valvar mitral com preservação de parte das estruturas
subvalvares e troca valvar mitral sem preservação das estruturas subvalvares.
A cirurgia preferida é o reparo quando a valva é passível deste procedimento,
já que evita anticoagulação (exceto se houver FA) ou a falência tardia da
prótese. A preservação de parte das estruturas subvalvares leva a melhor
preservação da função do VE no pós-operatório e aumenta a sobrevida dos
pacientes. A retirada do aparelho subvalvar deve ser realizada apenas nos
casos em que há intensa destruição de seus componentes pela patologia de
base, como p.ex. na doença reumática.
Muitos fatores são úteis para predizer o sucesso do reparo valvar mitral:
Experiência do cirurgião, prolapso do folheto posterior não reumático
decorrente de doença degenerativa ou rotura das cordas tendíneas. O
envolvimento do folheto anterior diminui a probabilidade de reparo.
Geralmente o envolvimento reumático e isquemico da valva mitral e a
calcificação dos folhetos e anel diminui a probabilidade de reparo, mesmo em
mãos experientes.
Recomendações para cirurgia valvar mitral em IM
grave não isquêmica:
Indicação |
Classe |
1. Pacientes sintomáticos com classe funcional NYHA
II, III ou IV com função de VE normal definida como FE > 60 % e
dimensão sistólica final < 45 mm. |
I |
2. Pacientes sintomáticos ou assintomáticos com leve
disfunção de VE definida como FE de 50 a 60 % e dimensão sistólica
final de 45 a 50 mm. |
I |
3. Pacientes sintomáticos ou assintomáticos com
moderada disfunção de VE definida como FE de 30 a 50 % e dimensão
sistólica final de 50 a 55 mm. |
I |
4. Pacientes assintomáticos com função de VE
preservada e fibrilação atrial (a persistência da FA após a cirurgia
valvar mitral neutraliza parcialmente a vantagem do reparo mitral
por requerer anticoagulação). |
II a |
5. Pacientes assintomáticos com preservada função de
VE e hipertensão pulmonar (PSAP > 50 mmHg no repouso e > 60 mmHg com
o exercício. |
II a |
6. Pacientes assintomáticos com FE entre 50 a 60% e
dimensão sistólica final < 45 mm e pacientes assintomáticos com FE >
60% e dimensão sistólica final de 45 a 55 mm. |
II a |
7. Pacientes com grave disfunção de VE (FE < 30%
e/ou dimensão sistólica final > 55 mm) nos quais a preservação das
cordoalhas é altamente provável. |
II a |
8. Pacientes assintomáticos com função de VE
preservada onde o reparo da valva mitral é altamente provável. |
II b |
9. Pacientes com PVM e função de VE preservada com
arritmias ventriculares recorrentes apesar do tratamento clínico. |
II b |
10. Pacientes assintomáticos com função de VE onde
há significativa dúvida sobre a possibilidade de reparo da valva
mitral. |
III |
Insuficiência mitral isquêmica:
O prognóstico destes pacientes é substancialmente pior que o de outras
causas de IM, já que a IM é causada por disfunção de VE e/ou de músculo
papilar. A revascularização pode melhorar a função de VE e reduzir a IM
isquêmica. A correção de IM aguda grave isquêmica, geralmente requer
cirurgia valvar. Não obstante na IM não isquêmica seja o reparo o
procedimento de escolha, é ainda controversa a cirurgia mais adequada para a
IM isquêmica. |